Coloque a tela na horizontal.

Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na metrópole de São Paulo

Conheça os dados do sistema alimentar da região metropolitana de São Paulo e saiba mais sobre as agriculturas praticadas na metrópole.

Role a tela para baixo e navegue pelos dados do estudo do Instituto Escolhas que investigou o potencial da agricultura urbana e periurbana de tornar o sistema alimentar da maior metrópole do país mais sustentável e resiliente.

Seta para baixo

O sistema alimentar da metrópole de São Paulo

O estudo levantou dados sobre produção, processamento, distribuição e consumo de produtos alimentícios no recorte territorial da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

Partindo do consumo, que é a relação mais próxima que temos com a comida, atravessamos o universo que existe por detrás das prateleiras, bancas e mesas dos estabelecimentos alimentares, até chegar na agricultura que existe na metrópole.

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é o maior aglomerado urbano da América Latina. São 39 municípios, que concentram 17,7% do PIB nacional e cerca de 21,6 milhões de habitantes, 10% da população nacional.

Mapa de iniciativas

Distribuição da população ocupada no segmento alimentar, RMSP, 2012 a 2018.

(Passe o cursor sobre as barras para visualizar o número por setor e ano)

A economia dos alimentos na metrópole

As atividades voltadas à alimentação reúnem 1,3 milhão de pessoas, nos setores de produção, indústria, comércio e serviços.

Esse número corresponde a aproximadamente 13% da população ocupada na RMSP, o dobro do número de empregados da construção civil.

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — RMSP 2012 a 2018.

Consumo

A quantidade de frutas, legumes e verduras (FLV) adquirida para consumo vem diminuindo.

Fonte: Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — RMSP 1987/88, 1995/96, 2002/03, 2008/09 e 2017/18. A POF classifica categoria de hortaliças as folhosas e florais, frutosas, tuberosas e outras. Estão incluídos, portanto, verduras (alface, acelga, couve, repolho, brócolis, couve-flor, etc), legumes (abóbora, berinjela, pimentão, tomate, etc), raízes e tubérculos (batatas, cenoura, mandioca, etc).

Aquisição domiciliar anual per capita, RMSP, em kg

(Clique para ligar e desligar as categorias no gráfico.)

Na RMSP, a alimentação fora de casa representa quase 40% do orçamento alimentar médio

O hábito de comer fora de casa tem se consolidado na rotina dos brasileiros de todas as classes sociais, com menor força nas classes mais pobres.

Fonte: Participação da alimentação fora do domicílio no gasto alimentar, segundo décimos de renda familiar per capita – RMSP, 2017/2018. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — RMSP 1987/88, 1995/96, 2002/03, 2008/09 e 2017/18.

Participação da alimentação fora no gasto alimentar, por décimo de renda familiar per capita, RMSP em 2017/2018, em %

(Passe o cursor sobre as barras do gráfico para ver os percentuais)

Circuitos curtos Circuitos longos

Comercialização

A comercialização de alimentos pode ser definida a partir do número de intermediários entre a produção e o consumidor final.

No Brasil, a comercialização de alimentos é realizada por meio de uma ampla gama de estabelecimentos privados e públicos.

Os supermercados concentram 47% das compras para fins domésticos.

Feiras livres e o comércio especializado se destacam dentro do comércio de pescados, frutas, legumes e verduras.

A rede pública de abastecimento (como mercados públicos, sacolões, feiras, centrais públicas de abastecimento, restaurantes públicos, bancos de alimentos e, também, escolas, que fornecem alimentação para os alunos) também tem um papel significativo na comercialização e no fornecimento de alimentos.

Estabelecimentos de comercialização e oferta de alimentos na RMSP

Clique para ligar e desligar as categorias abaixo

Ajuda

Metodologia

A Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) classifica os estabelecimentos privados de abastecimento identificados na Relação Anual de informações Sociais (RAIS) em três categorias, considerando onde a população adquire predominantemente alimentos ultraprocessados, in natura ou mistos, isto é, onde se adquirem ambas categorias.

Os estabelecimentos da categoria in natura são açougues, peixarias e varejista de hortifrutigranjeiros. Os estabelecimentos da categoria mistos são hipermercados, supermercados, minimercados, mercearias, padarias, varejista de laticínios e frios, restaurantes, ambulantes de alimentação, cantinas e de alimentos preparados para consumo domiciliar. E os estabelecimentos da categoria ultraprocessados são varejista de doces, balas e semelhantes, lojas de conveniência, lanchonetes, bares, casas de chá, de sucos e similares.

Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, alimentos ultraprocessados são aqueles de fabricação feita, em geral, em indústrias de grande porte, envolvendo diversas etapas de processamentos e muitos ingredientes, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias sintetizadas em laboratório a partir de outras fontes orgânicas. Além disso, são nutricionalmente desbalanceados. Alguns exemplos são guloseimas, bebidas adoçadas natural ou artificialmente, produtos congelados.

Os mapas que mostram a distribuição dos estabelecimentos que comercializam produtos in natura, misto e ultraprocessados foram construídos a partir da classificação dos estabelecimentos comerciais listados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2019, segundo os critérios propostos no Estudo técnico: Mapeamento dos Desertos Alimentares no Brasil (CAISAN, 2018). Os estabelecimentos classificados em in natura/misto ou ultraprocessados foram georreferenciados a partir do CEP (informação disponível na RAIS) e localizados no território através da API do Google (geolocation), mas por não ser uma informação exata (o ponto refere-se ao CEP, o que pode apresentar algumas distorções quando geolocalizados) optou-se por agregar segundo uma malha hexagonal de 1km. Em seguida, o número total de estabelecimentos foi dividido pela população residente naquela malha, obtida a partir de uma extrapolação do Censo de 2010 dos setores censitários. Dessa forma, apresentamos a distribuição relativa do número de estabelecimentos pela população residente. Informamos que possíveis desvios podem ocorrer devido ao processo de georreferenciamento, especialmente nos casos de vias de grande extensão com um único CEP somados ao processamento da população residente.

Todas as fontes cartográficas utilizadas estão descritas no Mapa Síntese.

Frutas, legumes e verduras comercializadas no ETSP, segundo o município de origem (2019)

Fonte: Dados Ceagesp, 2019. A Ceagesp é uma empresa pública federal vinculada ao Ministério da Economia responsável por 18 armazéns e entrepostos no Estado de São Paulo. A ETSP é a maior unidade da empresa.

O Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP) – mais conhecido como Ceagesp e localizado no município de São Paulo – é a maior central de abastecimento da América Latina e concentra grande parte do abastecimento da RMSP.

Pelo Ceagesp, passam frutas, legumes, verduras, flores, pescados e outros produtos de 1.500 municípios brasileiros e 18 países!

frutas Frutas
legumes Legumes
verduras Verduras
verduras frutas legumes

Complexidades do Território

Uma parte significativa do território da RMSP é ocupada por áreas de proteção e conservação ambiental. A agricultura é praticada tanto dentro da área urbanizada, quanto em suas imediações, que sofrem com a pressão

por urbanização, dado o crescimento populacional das periferias urbanas e os usos diversos que requerem o convívio, por exemplo, com áreas de proteção ambiental.

O uso do solo na RMSP é distribuído da seguinte forma:

Fonte: Mapbiomas, Coleção 5 (2019).

45%FORMAÇÕES
FLORESTAIS
26%ÁREA
URBANIZADA
22%AGROPECUÁRIA
3%FLORESTAS
PLANTADAS
3%RIO, LAGO
E OCEANO
1%OUTROS
USOS

Produção agropecuária e o território da RMSP

Clique para ligar e desligar as categorias abaixo

Ajuda

Definições

Valor Bruto da Produção - VBP

Calculado pelo IBGE tendo como base informações coletadas no recenseamento.

Unidades de Conservação de Proteção Integral - UCI

As Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCI - Lei Federal 9.985/2000) têm como propósito a preservação da natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção de alguns casos, de acordo com o Plano de Manejo. Para além dos limites circunscritos às UC, em seu entorno são previstas Zonas de Amortecimento (ZA), onde os usos do solo e dos recursos naturais e ambientais também são regidos de acordo com zoneamento específico.

Unidades de Conservação de Uso Sustentável - UCS

As Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCS - Lei Federal 9.985/2000) têm o objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Existem diversas UCS na RMSP que permitem a atividade agrícola, também de acordo com o Plano de Manejo aprovado por órgão público responsável. Nelas, são preconizados o manejo orgânico e as práticas agrícolas sustentáveis.

Área de Proteção dos Mananciais - APM

As Áreas de Proteção de Mananciais (APM - Leis Estaduais 898/1975 e 1.172/1976) compreendem seis reservatórios e 12 cursos d’água de interesse da RMSP, sendo previsto o licenciamento de atividades agrícolas no território da APM. As APM estão em processo de transição para Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRM).

Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais - APRM

A nova política de mananciais, (Lei Estadual 9.866/97) considerou uma ou mais sub-bacias hidrográficas dos mananciais da RMSP como uma Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRM). As APRM são criadas por lei específica e possuem planejamento de ocupação territorial para diversas atividades, através de Áreas de Intervenção. São cinco APRM já criadas e que possuem diferentes estratégias e conteúdos de regulamentação, de acordo com as características do território de cada sub-bacia hidrográfica. Está prevista ainda a criação de outras cinco APRMs.

Todas as fontes cartográficas utilizadas estão descritas no Mapa Síntese.

Unidades agropecuárias

5.083 estabelecimentos agropecuários

20 mil trabalhadores

65% dos estabelecimentos de até 20 hectares, que empregam 74,8% da mão de obra e produzem 60,8% do chamado Valor Bruto de Produção (VBP)

35% do VBP da agropecuária na RMSP está no município de Mogi das Cruzes

Fonte: De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE (2017), os estabelecimentos da Agricultura Familiar se caracterizam por possuírem área de até 4 módulos fiscais (na RMSP, até 20 ha ou 38 ha), estarem sob gestão estritamente familiar, possuir mais da metade da força de trabalho empregada no estabelecimento e retirar dali, no mínimo, metade de seus rendimentos. Ainda segundo o IBGE, a Agricultura Familiar pode ser subdividida, de acordo com a renda e enquadramento no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf): Pronaf B (até R$ 20 mil), Pronaf V (entre R$ 20 e 360 mil) e não Pronafiano (acima de R$ 360 mil).

Distribuição dos estabelecimentos e área dos estabelecimentos, em percentual, segundo tipo de agricultura na RMSP em 2017

(Passe o cursor sobre as barras do gráfico para ver os percentuais)

Número de estabelecimentos por grupo de atividade econômica, segundo o tipo de agricultura na RMSP, IBGE 2017

(Passe o cursor sobre as barras do gráfico para ver os números)

O reinado da alface

A agropecuária na metrópole é especializada em horticultura, setor que responde por 63,5% da produção.

Fonte: Censo Agropecuário 2017, IBGE

Dentre as hortaliças, o principal produto é a alface, que corresponde a quase 1⁄4 da produção e o outro quarto corresponde à produção de cogumelos e couve. A especialização se reflete no mercado nacional, no qual a RMSP responde por 52% dos cogumelos, 52% do espinafre, 16% da couve, 10% do repolho e 9% da alface produzidos no país.

Fonte: Censo Agropecuário 2017, IBGE

Participação dos principais produtos no VBP da horticultura – RMSP, IBGE 2017

Agricultura comercial de médio e grande porte

Função principal Predominantemente Comercial
Localização Nas franjas ou fora do tecido urbano
Inserção no mercado Alta
Uso de tecnologias Alto
Comercialização Majoritariamente circuitos longos
Associativismo Maior grau - Associações, Sindicatos e Cooperativas
Escala Média e grande propriedade
Produção Principal Horticultura e Produção florestal
Mão de obra principal Contratada > Familiar

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Leandro Cizotto, 2020

Agricultura comercial de pequeno porte

Função principal Predominantemente Comercial
Localização Nas franjas ou fora do tecido urbano
Inserção no mercado Alta
Uso de tecnologias Alto
Comercialização Majoritariamente circuitos longos
Associativismo Maior grau - Associações, Sindicatos e Cooperativas
Escala Minifúndio e pequena propriedade
Produção Principal Horticultura
Mão de obra principal Contratada > Familiar

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Tauan Manieri, 2020

Agricultura comercial familiar

Função principal Predominantemente Comercial
Localização Nas franjas ou fora do tecido urbano
Inserção no mercado Alta
Uso de tecnologias Alto
Comercialização Majoritariamente circuitos longos
Associativismo Maior grau - Associações, Sindicatos e Cooperativas
Escala Minifúndio e pequena propriedade
Produção Principal Horticultura
Mão de obra principal Familiar > Contratada

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Marcela Ferreira, 2017

Agricultura multifuncional

Função principal Comercial e autoconsumo
Localização Nas franjas ou fora do tecido urbano
Inserção no mercado Média
Uso de tecnologias Baixo
Comercialização Circuitos curtos
Associativismo Menor grau
Escala Minifúndio e pequena propriedade
Produção Principal Horticultura e Pecuária
Mão de obra principal Familiar > Contratada

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Vitória Leão, 2018

Agricultura urbana multifuncional

Função principal Autoconsumo e comercial
Localização Dentro do tecido urbano
Inserção no mercado Média
Uso de tecnologias Baixo
Comercialização Circuitos curtos
Associativismo Maior grau - Associações, ONGs
Escala Lote urbana
Produção Principal Horticultura e Pecuária de pequeno porte
Mão de obra principal Familiar > Contratada

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Marcela Ferreira, 2020

Fazenda urbana vertical

Função principal Comercial
Localização Dentro do tecido urbano
Inserção no mercado Alta
Uso de tecnologias Altíssimo
Comercialização Circuitos curtos
Associativismo Não aplicável
Escala Lote urbano
Produção Principal Horticultura
Mão de obra principal Contratada

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Rodrigo Giorgi, 2020

Hortas institucionais, quintas produtivos, hortas comunitárias

Função principal Autoconsumo, educativo, atividades comunitárias e ativismo
Localização Dentro do tecido urbano
Inserção no mercado Não inserida
Uso de tecnologias Baixo
Comercialização Não aplicável
Associativismo Maior grau - Coletivos
Escala Áreas públicas e privadas
Produção Principal Horticultura
Mão de obra principal Comunitária, institucional, contratada e voluntária

Consideramos o módulo fiscal de 5 ha para a RMSP, visto que representa o valor da maioria dos municípios que a compõem. As agriculturas de médio e grande porte estão em áreas superiores a 20 hectares (acima de 4 módulos fiscais); as agriculturas de pequeno porte estão em áreas de até 20 hectares (até 4 módulos fiscais), podendo ser um minifúndio, com área inferior 5 hectares (menor que 1 módulo fiscal).

Imagem: Vitória Leão, 2020

Olhando mais de perto: a viabilidade econômica de 4 casos empíricos

Resultados da modelagem econômico-financeira dos casos e análise dos principais gargalos identificados.

Caso 1
Agricultura comercial de médio porte, convencional

Localização: área periurbana

Área total: 40 hectares

Área produtiva: 10,8 hectares

Relação com a terra: propriedade

Tempo em atividade: mais de 40 anos

Mão de obra: 56 funcionários

Manejo: convencional - campo e hidroponia

Produtos: 11 espécies, principalmente hortaliças folhosas (alface, rúcula e agrião) e brássicas (couve, acelga e repolho).

Acesso ao mercado: CEAGESP e Varejo

ANÁLISE: Lucro não remunera altos investimentos. Estabelecimento está vulnerável á pressão pela venda da terra.

Com alto uso de tecnologia, mão de obra e insumos, o estabelecimento obtém eficiência. Apesar de gerar lucro operacional positivo, este não supera os custos de depreciação dos equipamentos e as crescentes despesas com insumos. Inserido em circuitos longos de comercialização, os preços de venda dos produtos do estabelecimento são baixos. Produtores que se enquadram em cenários semelhantes, além de pouco resilientes a eventos climáticos e choques de demanda, também estão vulneráveis à expansão urbana.

Resultado operacional R$/un
Receita líquida 0,74
Custos de produção -0,56
Lucro Bruto 0,19
Comercial e Gestão -0,16
EBITIDA 0,03
Depreciação -0,06
Lucro operacional -0,03

Caso 2
Agricultura comercial familiar, orgânica

Localização: área periurbana

Área total: 8,5 hectares

Área produtiva: 0,25 hectares

Relação com a terra: arrendamento

Tempo em atividade: 1 ano

Mão de obra: familiar, casal de agricultores

Manejo: orgânico (em transição) - campo

Produtos: 17 espécies, principalmente hortaliças folhosas (alface, rúcula, escarola, espinafre e agrião), brássicas (couve, couve-flor, brócolis e repolhos) e raízes (cenoura, beterraba e rabanete)

Acesso ao mercado: feiras de produtores

ANÁLISE: Orgânicos na balança: período inicial desafiador com altos custos de insumos, investimentos e perdas.

O estabelecimento precisará de 3 a 5 anos de manejo agroecológico até que o solo volte a ser fértil e passe a demandar menor volume de insumos orgânicos. Enquanto isso, o proprietário já comercializa seus produtos com o valor agregado dos orgânicos, graças às relações de confiança estabelecidas no circuito curto no qual está inserido. Mesmo ancorado em prêmio de preço elevado, o produtor ainda não obtém retorno sobre o capital investido. O baixo nível dos processos de gestão adotados, decorrente da pouca experiência dos agricultores no ramo, bem como o alto volume de investimentos em infraestrutura feitos nessa fase inicial do negócio, colocam-se como pontos críticos de atenção na conquista da viabilidade financeira.

Resultado operacional R$/un
Receita líquida 5,27
Custos de produção -2,66
Lucro Bruto 2,62
Comercial e Gestão -3,72
EBITIDA -1,11
Depreciação -0,37
Lucro operacional -1,48

Caso 3
Agricultura multifuncional, orgânica

Localização: área periurbana

Área total: 0,75 hectares

Área produtiva: 0,4 hectares

Relação com a terra: assentamento

Tempo em atividade: 20 anos

Mão de obra: familiar, casal de agricultores

Manejo: orgânico - campo

Produtos: 47 espécies, principalmente hortaliças folhosas (como alfaces, rúcula, entre outras), couve e raízes (cenoura e beterraba)

Acesso ao mercado: feiras, compras públicas. A produção também é voltada para o autoconsumo.

ANÁLISE: Viabilidade econômica ancorada em prêmio de preço dos circuitos curtos de orgânicos e no acesso à terra.

Em ambos os casos 3 e 4, boa parte dos custos de produção e despesas comerciais e administrativas corresponde à remuneração do agricultor, considerada satisfatória – ainda que a margem de lucro seja baixa. A infraestrutura é básica ou depreciada. A viabilidade desses dois modelos apoia-se em dois diferenciais: os preços altos, por serem produtos orgânicos e pela venda ser realizada diretamente ao consumidor ou via compras públicas; e o fato dos agricultores não aportaram recursos financeiros para acessar a terra, que, por isso, não entra na conta dos custos de produção.

Resultado operacional R$/un
Receita líquida 3,46
Custos de produção -1,78
Lucro Bruto 1,68
Comercial e Gestão -1,49
EBITIDA 0,19
Depreciação -0,06
Lucro operacional 0,13

Caso 4
Agricultura urbana multifuncional, orgânica

Localização: área urbana, sob linhões de energia

Área total: 0,6 hectares

Área produtiva: 0,4 hectares

Relação com a terra: comodato

Tempo em atividade: 10 anos

Mão de obra: familiar, casal de agricultores

Manejo: orgânico - campo

Produtos: 50 espécies, principalmente hortaliças folhosas (alface, rúcula e escarola), brássicas (couve e brócolis), abóboras, beterraba e banana.

Acesso ao mercado: feiras, restaurantes, institutos. A produção também é voltada para o autoconsumo.

ANÁLISE: Viabilidade econômica ancorada em prêmio de preço dos circuitos curtos de orgânicos e no acesso à terra.

Em ambos os casos 3 e 4, boa parte dos custos de produção e despesas comerciais e administrativas corresponde à remuneração do agricultor, considerada satisfatória – ainda que a margem de lucro seja baixa. A infraestrutura é básica ou depreciada. A viabilidade desses dois modelos apoia-se em dois diferenciais: os preços altos, por serem produtos orgânicos e pela venda ser realizada diretamente ao consumidor ou via compras públicas; e o fato dos agricultores não aportaram recursos financeiros para acessar a terra, que, por isso, não entra na conta dos custos de produção.

Resultado operacional R$/un
Receita líquida 3,09
Custos de produção -1,81
Lucro Bruto 1,29
Comercial e Gestão -1,13
EBITIDA 0,16
Depreciação -0,04
Lucro operacional 0,12

Preços e canais comerciais

A dinâmica comercial dos casos aponta para duas realidades opostas: (i) a de uma produção convencional em larga escala e direcionada a um mercado altamente competitivo; e (ii) a de uma produção orgânica orientada a um público mais restrito, local e/ou de menor escala. Entre os dois extremos, há ainda em um dos casos a produção de pequena escala, que reunida por meio de uma cooperativa, consegue ser comercializada em programas de compras públicas. No diagrama, vemos os preços praticados nas cadeias de orgânicos e convencionais, e a posição em que cada caso se insere:

Gráfico de preços por canais
Premissas Modelo 1 Agricultura comercial de pequeno porte, orgânico Modelo 2 Agricultura urbana multifuncional, orgânico
Localização Periurbana Urbana
Área total 4,5 hectares 0,45 hectares
Comercialização Via distribuidor de produtos orgânicos Direto com o consumidor final
Mão de obra Equipe de campo contratada Operação realizada pelo próprio produtor
Insumos Aplicação de insumos reduzida ao longo do tempo dada a evolução em fertilidade do solo Ponto de partida é solo urbano com elevado grau de modificação
Logística Despesa logística com maior distância potencial Despesa logística baixa, com venda próxima a área de produção
Gestão Despesas de gestão completas (~ 90 mil/ano) Despesas de gestão moderada (~ 23 mil/ano)
Investimentos Aproximadamente R$ 220 mil Aproximadamente R$ 45 mil

Produzir alimentos na metrópole é viável?

Com base nos estudos de casos, o estudo simulou a viabilidade econômica e o potencial de unidades produtivas modelo nos contextos periurbano e urbano, com o objetivo de aprofundar a investigação sobre a viabilidade operacional e econômica da AUP na RMSP praticada com manejo orgânico.

A simulação dos modelos hipotéticos confirmou que ...

... a agricultura comercial de pequeno porte orgânica pode ser um investimento atraente, com potencial de oferecer retorno sustentável para comercialização em escala, desde que supere o período inicial de altos investimentos e fluxo de caixa negativo e que não esteja submetido ao valor pago pelos intermediários que atuam hoje na cadeia de orgânicos.

.... a agricultura urbana multifuncional orgânica tem potencial para obter boa remuneração pelo trabalho, vendendo próximo ao consumidor. Formas de comercialização com demanda regular (compras institucionais e atuação conjunta com bons agentes intermediários) ajudam a diminuir o tempo despendido com a atividade de venda, que pode ser aplicado na atividade em si.

Fatores chave para a viabilidade da produção local

Circuitos curtos de comercialização

A agricultura comercial de pequeno porte modelada é viável, desde que consiga vender sua produção a um valor no mínimo 90% maior do que aquele praticado por distribuidores de produtos orgânicos. através de uma cadeia de comercialização mais curta.

Nesse cenário, no entanto, o retorno obtido com a venda da terra ainda é maior do que aquele obtido com o negócio. Para que valor do negócio seja superior ao valor da terra na região, esse preço deve ser 100% maior, equivalente ao preço pago pelo varejo — sendo que o preço de equilíbrio pode ser maior ou menor, dependendo da eficiência gerencial e técnica, bem como da otimização de custos. Em suma, a agricultura comercial de pequeno porte modelada é viável através de uma cadeia de comercialização mais curta.

Modelo 1 - Agricultura comercial de pequeno porte, orgânico: Preço do produto e da terra

Gráfico de viabilidade

O tempo da transição orgânica

O primeiro ano de operação da agricultura comercial de pequeno porte modelada é desafiador, envolvendo a realização de investimentos expressivos, operação abaixo da escala e da performance ideal.

Ao longo dos anos iniciais de transição orgânica, os resultados financeiros gradativamente melhoram com o ganho de experiência, formação e fertilização do solo, redução de custos e aumento de produtividade. A partir do quinto ano, quando a operação está em performance e escala ideais, há retorno do investimento realizado.

Modelo 1 - Agricultura comercial de pequeno porte, orgânico: Dinâmica da unidade produtiva ao longo do tempo

Qual o potencial da agricultura urbana e periurbana na metrópole de São Paulo?

A agricultura praticada nas áreas periurbanas da metrópole tem o potencial de abastecer com legumes e verduras 20 milhões de pessoas anualmente e gerar 180 mil empregos.

A simulação considera uma área cultivada de 60.000 hectares por estabelecimentos modelo periurbanos. Essa expansão é possível nas atuais áreas de pastagem e não implicaria em avanço nas áreas florestais e de preservação e conservação ambiental.

Já a produção de alimentos em áreas urbanas tem o potencial de abastecer com legumes e verduras 80 mil pessoas e gerar 1 mil empregos.

A simulação considera uma área cultivada de 200 hectares por estabelecimentos modelo urbanos. Essa área é o equivalente à área de terrenos vagos no distrito de Sapopemba, no município de São Paulo. O número de famílias que poderiam ser beneficiadas, 24 mil, é 1,5x o número de famílias beneficiárias do Bolsa Família no distrito.

Como é a produção local de alimentos em outras metrópoles do país?

Veja aqui

Mapa Síntese

Clique para ligar e desligar as categorias abaixo

Ajuda

Fontes

  • CEAGESP. Frutas, Legumes e Verduras comercializados no ETSP, segundo município de origem Brasil, 2019.
  • Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Áreas verdes, Parques e Áreas de Proteçõ Ambiental da RMSP, 2018. Disponível em http://centrodametropole.fflch.usp.br
  • Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Divisão territorial, 2013. Disponível em http://centrodametropole.fflch.usp.br
  • Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Escolas da RMSP, 2016. Disponível em http://centrodametropole.fflch.usp.br
  • Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Índice Paulista de Vulnerabilidade Social, 2010. Disponível em http://seade.gov.br
  • Fundação Florestal. Áreas ambientais, 2018. Disponível em http://ibge.gov.br
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo agropecuário, 2017. Disponível em http://ibge.gov.br
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo demográfico, 2010. Disponível em http://ibge.gov.br
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Limites administrativos, 2017. Disponível em http://ibge.gov.br
  • Instituto Florestal. Áreas ambientais, 2018. Disponível em http://mapas.mma.gov.br
  • Ministério da Economia. Relação Anual de Informações Sociais, 2019. Disponível em http://rais.gov.br
  • Projeto Mapbiomas. Coleção da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso do Solo do Brasil, 2019. Disponível em http://mapbiomas.org
  • Secretaria da Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA). Áreas ambientais, 2018. Disponível em http://datageo.ambiente.sp.gov.br
  • Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária, 2016-2017.
  • Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo. Abastecimento, 2018. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br

Metodologia

Para construir uma abordagem exploratória e panorâmica do sistema alimentar, adotamos como referência a metodologia proposta pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e Resource Centres on Urban Agriculture & Food Security (RUAF) para mapeamento de sistemas alimentares urbanos a partir de uma abordagem territorial, denominada “City- Region Food System Scan” (FAO; RUAF, 2018). Trata-se de um guia que orienta o levantamento de informações de diferentes subsistemas que compõem o sistema alimentar de uma determinada “cidade-região”, isto é, um recorte territorial que compreende uma cidade e regiões vizinhas, conectadas como um único sistema. A metodologia pressupõe a adoção preliminar de limites geográficos de uma cidade-região e a exploração dos dados e informações disponíveis neste recorte. Os critérios para definição dos limites podem variar conforme o caso, podendo considerar limites administrativos, unidades regionais, regiões produtoras de alimentos e a disponibilidade de dados, por exemplo. No limite, estão integradas ao sistema alimentar de uma determinada cidade ou metrópole todas regiões provedoras de alimentos para aquele território, incluindo também áreas distantes.

Assim, a delimitação de uma cidade-região serve ao propósito de estabelecer uma unidade de análise. Tendo em vista o objetivo de caracterização do sistema, foi empregado como método a análise descritiva de dados, além de geoprocessamento para tratamento dos dados selecionados. Sempre que pertinente, procuramos espacializar os dados apresentados, de forma a permitir uma compreensão das características territoriais do sistema alimentar. O mapeamento foi realizado para contribuir na construção da tipologia de agricultura proposta pela pesquisa, sobretudo com elementos não disponíveis em análises quantitativas (como comercialização e localização) e criar um acervo de informações para auxiliar a escolha dos estudos de caso segundo critérios específicos. A partir de 10 casos pré-selecionados, desenvolvemos quatro estudos de caso em profundidade, aplicando modelos de análise econômico-financeira. A coleta de dados foi feita em conjunto com os agricultores e também subsidiou a elaboração de dois casos hipotéticos.

Mais informações acerca da metodologia, de outros resultados da pesquisa e do referencial utilizado, estão disponíveis nos links abaixo.

Sumário Executivo Estudo completo

Dados abertos

Os dados utilizados pelo estudo para a elaboração das visualizações cartográficas, encontram-se disponíveis para download.

Créditos Plataforma

Coordenação: Jaqueline Ferreira (Instituto Escolhas)

Conteúdo: Jaqueline Ferreira, Marcela Alonso Ferreira, Vitória Oliveira Pereira de Souza Leão, Leandro Cizotto e Carolina Passos

Edição e revisão de conteúdo: Jaqueline Ferreira, Bruna Cenço e Teresa Rossi (Instituto Escolhas)

Desenvolvimento do site e design: Carolina Passos (Mapping Lab), Armando Biagioni Neto (Mapping Lab) e Ariel Tonglet

Créditos Estudo

Coordenação Geral: Jaqueline Ferreira (Instituto Escolhas)

Coordenação Técnica: Fernando de Mello Franco (Instituto Urbem)

Pesquisadores: Marcela Alonso Ferreira, Vitória Oliveira Pereira de Souza Leão, Leandro Cizotto e Carolina Passos

Colaboradores: Caio Bifaroni, Fernando Gaiger, Jay Van Amstel, Márcio Selva, Osvaldo Aly, Peter May, Roberta Curan, Sebastião Wilson Tivelli, Shigueo Watanabe, Tauan Manieri

Contato: comunicacao@escolhas.org

"Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na Metrópole de São Paulo, 2020" por Instituto Escolhas está licenciado sob CC BY-SA 4.0.